Nome: As Aventuras de Pi
No Original: Life Of Pi
Autor (a): Yann Martel
Tradutor (a): Maria Helena Rouanet
Páginas: 376
Editora: Nova Fronteira
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Sinopse: A vida é capaz de pregar cada peça... Tomemos o exemplo de Piscine Molitor Patel, também conhecido como Pi, sim, isso mesmo, igual a 3,14. Um menino indiano de dezesseis anos, filho do dono de um zoológico, vegetariano e... bom... hindu, cristão e muçulmano. Muito bem; pois esse jovenzinho absolutamente normal será lançado numa das maiores aventuras já idealizadas pelo homem moderno, uma luta pela sobrevivência em meio à natureza selvagem e imprevisível do Pacífico. Somos apresentados a esse cativante personagem que subitamente perde tudo - os sonhos, a família, um futuro - após o naufrágio de seu navio. Pois tudo que lhe resta são um vasto oceano, um bote e uma tripulação de sobreviventes composta de uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre-de-bengala, animais do antigo zoológico. Animais selvagens, ferozes e letais, diga-se de passagem. É uma história e tanto, não é?
A história começa nos apresentando Pi, um garoto nascido e criado no zoológico da família. Seu nome incomum é graças a um amigo da família que era apaixonado por piscinas. Pi sempre foi diferente, e absorvia o mundo em torno de si. Os ensinamentos involuntários de se viver rodeado de tantos animais, ferozes ou não. Pi também sempre se interessou por religião e não satisfeito se considerava hindu, cristão e muçulmano, estudando e orando com cada uma delas. Mas a vida na Índia naquele período não era fácil e no fim da década de 70 a família Patel estava de mudança. Começariam uma nova vida no Canadá. O pai vendeu os animais e eles embarcaram junto com a maioria em um navio cargueiro. Pi estava inquieto na noite que o navio afundou e ele se viu sozinho, órfão em um bote com pouco suprimento, uma hiena, um tigre, uma orangotango e uma zebra ferida. Logo a cadeia alimentar venceu e restaram apenas ele, o tigre de bengala Richard Parker e infinito oceano pacífico. Lutando para manter a sanidade e a superioridade sobre Richard Parker essa foi a vida do improvável garoto indiano. Como sobreviver debaixo das intempéries do oceano, a um tigre de bengala, a fome, a solidão e as atitudes que precisamos tomar para tal?
A narrativa de Yann Martel é algo surpreendente, dando voz a um garoto incomum ele nos traz uma história que analisa e até mesmo filosofa sobre a coragem e a fé do ser humano. Não importando nossas religiões ou credos. Fé é uma coisa que vai além de um deus ou uma crença. O autor acerta o tom e com uma realidade crua e sensível nos mostra o estado de suspensão que o ser humano é capaz de viver e tolerar quando se trata de sobrevivência. Pi abdicou do sofrimento pela perda da família e dos animais para viver em um estado quase automático, que mesmo sem um horizonte definido, mesmo sem esperanças de mudanças não o fez perder a centelha do que podemos chamar de fé, e assim dia após dia Pi viveu uma existência miserável e cruel. E foi por apenas viver que ele sobreviveu.
Com descrições ora belas e ora terríveis o autor nos transporta para o bote e para a experiência de viver no estado que o protagonista viveu. Martel conseguiu construir um ambiente crível, e assim junto com o protagonista vamos aprendendo sobre a vida no mar e a vida de um náufrago. Não apenas as questões psicológicas e existências foram abordadas. A narrativa é repleta de curiosidades interessantes sobre navegação, sobre o mar e principalmente sobre animais. O final foi o esperado, mas agradou, ao mesmo tempo que deixou uma incrível sensação de desolação. E ainda é possível aos mais céticos a dúvida sobre o que a mente é capaz de criar para sobreviver.
Leitura cadenciada, que flui em um ritmo próprio e que deve ser lida sem pressa. Forte, triste, e ao mesmo tempo bela. Mas ainda assim acredito que teria sido melhor não terem adaptado para o cinema. A história de Pi é para ser lida e sentida. A edição da Nova Fronteira está muito boa, fonte agradável, tradução ótima que manteve a essência da história sem travas. Não gosto de capas de filme, mas até que com o tempo o tigre é aceitavelmente imponente. Recomendado a todos que procuram um romance diferente do que temos visto nos últimos tempos. Incomum e tocante. Merece ser descoberto. Leiam! Até mais!
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